sábado, abril 22, 2006

As Razões do Amor


Os místicos e os apaixonados concordam em que o amor não tem razões. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa : "A rosa não tem "porquês". Ela floresce porque floresce." Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema As Sem-Razões do Amor. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento.

"Eu te amo porque te amo..." - sem razões... "Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo." Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra.

"Amor é estado de graça e com amor não se paga." Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que "amor com amor se paga". O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo.

"Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários... Amor não se troca... Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo..."

Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos. Só os apaixonados acreditam que o amor seja assim, tão sem razões. Mas eu, talvez por não estar apaixonado (o que é uma pena...), suspeito que o coração tenha regulamentos e dicionários, e Pascal me apoiaria, pois foi ele quem disse que "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos.

Destas razões escritas em língua estranha o próprio Drummond tinha conhecimento, e se perguntava: "Como decifrar pictogramas de há 10 mil anos se nem sei decifrar minha escrita interior? A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco." O amor será isto: um soco que o desconhecido me dá?

Ao apaixonado a decifração desta língua está proibida, pois se ele a entender, o amor se irá. Como na história de Barba Azul: se a porta proibida for aberta, a felicidade estará perdida. Foi assim que o paraíso se perdeu: quando o amor - frágil bolha de sabão - não contente com sua felicidade inconsciente, se deixou morder pelo desejo de saber. O amor não sabia que sua felicidade só pode existir na ignorância das suas razões. Kierkegaard comentava o absurdo de se pedir aos amantes explicações para o seu amor. A esta pergunta eles só possuem uma resposta: o silêncio. Mas que se lhes peça simplesmente falar sobre o seu amor - sem explicar. E eles falarão por dias, sem parar...

Mas - eu já disse - não estou apaixonado. Olho para o amor com olhos de suspeita, curiosos. Quero decifrar sua língua desconhecida. Procuro, ao contrário do Drummond, as cem razões do amor...

Vou a Santo Agostinho, em busca de sua sabedoria. Releio as Confissões, texto de um velho que meditava sobre o amor sem estar apaixonado. Possivelmente aí se encontre a análise mais penetrante das razões do amor jamais escrita. E me defronto com a pergunta que nenhum apaixonado poderia jamais fazer: "Que é que eu amo quando amo o meu Deus?" Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: "Que é que eu amo quando te amo?" Seria, talvez, o fim de uma estória de amor. Pois esta pergunta revela um segredo que nenhum amante pode suportar: que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. Nas palavras de Hermann Hesse, "o que amamos é sempre um símbolo". Daí, conclui ele, a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra.

Variações sobre a impossível pergunta:

"Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no seu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios... Como Narciso, fico diante dele... No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura... Por isto te amo, pelos peixes encantados..."(Cecília Meireles)

Mas eles são escorregadios, os peixes. Fogem. Escapam. Escondem-se. Zombam de mim. Deslizam entre meus dedos. Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro com esta outra coisa que, por pura graça, sem razões, desceu sobre ti, como o Vento desceu sobre a Virgem Bendita. Mas, por ser graça, sem razões, da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. E minha busca recomeçará de novo...

Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. A paixão se recusa a saber que o rosto da pessoa amada (presente) apenas sugere o obscuro objeto do desejo (ausente). A pessoa amada é metáfora de uma outra coisa. "O amor começa por uma metáfora", diz Milan Kundera. "Ou melhor: o amor começa no momento em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética." Temos agora a chave para compreender as razões do amor: o amor nasce, vive e morre pelo poder - delicado - da imagem poética que o amante pensou ver no rosto da amada...



Rubem Alves(Crônica publicada no "Correio Popular", Campinas, em 14/05/92)

terça-feira, abril 18, 2006

Coisas da Vida

Hoje tive o que se chama um dia de cão, cão de rua, rafeiro mesmo, e não dos outros que ficam na alcofa quente nos dias de chuva, esperando que os donos cheguem a casa e lhe prestem atenção.

O meu dia hoje devia ser para esquecer, mas infelizmente isso não é possível. Fiquei a saber que um dos amigos da minha filha, se não o melhor amigo dela, tem cancer na garganta. Foi hoje internado para começar a fazer quimioterapia. É um jovem de apenas 28 anos, não fuma e nem bebe, pratica desporto e faz uma alimentação saudável. Então pergunto-me, porquê?!

Nestas alturas, eu que sou católica, interrogo-me onde está o Deus de que tanto a Igreja fala?
Onde está Deus que permite que jovens , que seguem a Sua doutrina, sem pecado e seguindo os Seus Mandamentos tenham doenças mortais. Nestas alturas eu quase renego a minha fé, tamanha é a revolta que sinto.

Bom mas não é tudo, como se essa notícia não fosse suficiente para abalar o meu mundo, tive outra que só não é mais trágica, porque encaro estas coisas de uma outra forma.

Nuns exames de rotina, cujo resultado obtive hoje, fiquei a saber que tenho um nódulo na mama esquerda, e que vou ter que fazer uma biopsia, para analisar o "danadinho".

Pois é, uma desgraça nunca vem só, e hoje a minha vida, que ultimamente parecia não ter sentido, ficou ainda mais confusa. No meu fraco entender, na minha maneira de ver as coisas, nada fiz que merecesse este castigo. Ele há tanto pecador por esse mundo fora, e parece que é só na minha porta, que o azar bate.

Temo mais pelo Luís, do que por mim, o meu nódulo pode ser benigno e ser extraído sem grandes males, mas ele, coitado... 28 anos... isto não devia estar a acontecer-lhe. Ele é ainda uma criança.

Hoje não estou nada bem, a revolta, a raiva e o desespero tomaram conta de mim, não sei o que farei amanhã, mas, quem disse que o amanhã existe?!?!

domingo, abril 16, 2006

Informação Útil







Informação útil já que o telemóvel faz parte da vida de todos nós.

Cada vez que carregamos o telemóvel no multibanco e sem pedirmos recibo com o número de contribuinte, as operadoras de telemóveis não pagam impostos.


Mesmo assim nós pagamos as chamadas aos preços mais caros da Europa.

Já que não podemos ser beneficiados com a redução destes preços, não permitamos que as operadoras facturem milhares com a fuga aos impostos

Guardem uma cópia do cartão de contribuinte no bolso ou decorem o número, são só nove dígitos.



Quando "carregarem" o telemóvel por Multibanco...
peçam sempre recibo com o vosso nº de contribuinte (menos uma fuga aos impostos para este país recuperar na economia) !!!




Sensibilize a família e amigos para que sempre exijam as facturas com o número de contribuinte.
Defenda o seu futuro!

sexta-feira, abril 14, 2006

Creio nos anjos que andam pelo mundo



Creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,

creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,

creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro.

Amém.

Natália Correia

quarta-feira, abril 05, 2006

Cabeça e Coração...