terça-feira, abril 18, 2006

Coisas da Vida

Hoje tive o que se chama um dia de cão, cão de rua, rafeiro mesmo, e não dos outros que ficam na alcofa quente nos dias de chuva, esperando que os donos cheguem a casa e lhe prestem atenção.

O meu dia hoje devia ser para esquecer, mas infelizmente isso não é possível. Fiquei a saber que um dos amigos da minha filha, se não o melhor amigo dela, tem cancer na garganta. Foi hoje internado para começar a fazer quimioterapia. É um jovem de apenas 28 anos, não fuma e nem bebe, pratica desporto e faz uma alimentação saudável. Então pergunto-me, porquê?!

Nestas alturas, eu que sou católica, interrogo-me onde está o Deus de que tanto a Igreja fala?
Onde está Deus que permite que jovens , que seguem a Sua doutrina, sem pecado e seguindo os Seus Mandamentos tenham doenças mortais. Nestas alturas eu quase renego a minha fé, tamanha é a revolta que sinto.

Bom mas não é tudo, como se essa notícia não fosse suficiente para abalar o meu mundo, tive outra que só não é mais trágica, porque encaro estas coisas de uma outra forma.

Nuns exames de rotina, cujo resultado obtive hoje, fiquei a saber que tenho um nódulo na mama esquerda, e que vou ter que fazer uma biopsia, para analisar o "danadinho".

Pois é, uma desgraça nunca vem só, e hoje a minha vida, que ultimamente parecia não ter sentido, ficou ainda mais confusa. No meu fraco entender, na minha maneira de ver as coisas, nada fiz que merecesse este castigo. Ele há tanto pecador por esse mundo fora, e parece que é só na minha porta, que o azar bate.

Temo mais pelo Luís, do que por mim, o meu nódulo pode ser benigno e ser extraído sem grandes males, mas ele, coitado... 28 anos... isto não devia estar a acontecer-lhe. Ele é ainda uma criança.

Hoje não estou nada bem, a revolta, a raiva e o desespero tomaram conta de mim, não sei o que farei amanhã, mas, quem disse que o amanhã existe?!?!

2 Comments:

Blogger uivomania Diz...

Primeiro que tudo... não sei se estar em casa na alcofa quente, esperando dono e à espera de atenção, é melhor que ser rafeiro!
Depois... como de cada pedaço de tempo que vivi, acredito poder retirar ensinamentos que me permitam continuar a aprender estar e ser... duvido, que haja algum dia para esquecer! ...Francamente.
Por outro lado, um cancer é um cancer, um homem é um homem, noutro lado ou na garganta há muitos curados, e era isso que quereria acreditar (mesmo) se o rapaz fosse meu amigo.
Deus, igrejas, religiões, seguidores de doutrinas sem pecado, revolta e renegação da fé, doenças mortais...
Não há doenças mortais! Há doentes que morrem! Doentes que não respondem à força da vida. Por muito que sejam os recursos curativos. E quanto a esses, que mais há a fazer?! E que sabemos nós da morte e da vida?! É Deus a muleta que nos permite viver sós sem acreditar na vida e em nós?! Quantos nódulos na mama esquerda existem sem que a sua razão de ser seja invadir e destruir um organismo que pretende existir e conhecer?! Quantos desses nódulos nem tiveram que ser extraídos?! Porque não esvaidos, desaparecidos por falta de sentindo?
Uma vida sem sentido... minha amiga, ainda que isso fosse o que pretenda, digo-lhe convicto, que não vai conseguir! Tem vivido, interagido, tem conseguido suportar cada carga aparecida pela frente, do seu modo, sem possibilidade de avaliar todas as repercussões da sua vida em toda a sua extensão! Quanto a castigos, desgraças, azares, temores... quanto do seu lastro não é criado por nós?!

19 abril, 2006 02:06  
Blogger Ana Diz...

Olá Uivo, há muito tempo que não sabia de si :) Fico contente por ter comentado o meu desabafo.

Na vida de todas as pessoas existem dias para esquecer, por um ou outro motivo há alturas em que desejamos que o tempo pare para podermos repetir o mesmo dia, mas sem o que nos incomodou, sem o que nos fez sofrer, ou simplesmente para evitar que magoemos alguém.

Sei bem que a vida é uma dádiva e que como tal devemos apreciar cada instante que vivemos, mas tem momentos em que se abate sobre nós a desilusão e aí gostaríamos de passar uma borracha e apagar tudo, senão da vida, pelo menos da memória. No entanto devo dizer que gostei de ler, e pelo menos o meu desabafo fez com que se mostrasse, já tinha saudades de o ler.

Mas quando diz que não existem doenças mortais, apenas pessoas que desistiram de viver, não posso de forma alguma concordar. Nos meus braços há 15 anos morreu Fátima, uma mulher com uma força de vida e uma garra e vontade de viver como nunca conheci outra. Fátima tinha uma bébé de apenas alguns meses, quando o cancer dos ossos lhe destruíu a vida. Lutou com quantas forças tinha e mais algumas, resistiu até ao limite do
insuportável, sofreu na pele e na alma. Fez todos os tratamentos possíveis, passou como se diz "as passas do algarve", sempre com a esperança que este ou aquele tratamento lhe trouxesse o tão esperado alivio para as dores, já que cura ela sabia que não tinha.

Fátima só queria ver crescer a filha Marta. Marta tem 16 anos e cresceu sem mãe. Uma mãe que lutou até ao ultimo sopro por uma vida que não teve. Fátima tinha 27 anos.

Por isso Uivo, há doenças mortais sim, e para mim é mais simples (ou fácil) culpar por elas a Entidade que aprendi a conhecer como O Todo Poderoso, porque isso permite que a minha raiva se esvanessa. É mais fácil culpar porque não encontro razões lógicas para que tais coisas aconteçam, em pessoas que levam ou levaram vidas saudáveis.

Pessoas que acreditavam nelas próprias e continuaram a acreditar mesmo depois do azar bater á sua porta. Há doenças mortais sim! E a cada amigo que vemos morrer com uma delas, a nossa fé abala-se e questionamos as nossas convicções.

Beijos

20 abril, 2006 15:05  

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