quarta-feira, novembro 03, 2004

Uma "cratera" na retina

É uma membrana composta por células nervosas que reveste o interior do globo ocular. Converte as imagens em impulsos nervosos que são transmitidos ao cérebro pelo nervo óptico


Regressando a casa numa noite do verão Algarvio, em plena Via do Infante, dou por mim a sacudir mosquitos imaginários, na realidade não eram mosquitos mas sim clarões que surgiam do nada a cada vez que eu piscava os olhos. Parei o carro, hoje vejo a imprudência que cometi, esfreguei ambos os olhos com as palmas das mãos e segui viagem.

Chegada a casa os clarões continuavam, mas como a noite tinha sido de festa, não pensei mais no assunto deitei e dormi. Acordei com a vista direita inflamada, mal conseguia abrir o olho e quando o fazia a claridade do sol fazia com que a vista se marejasse de lágrimas. Não podia estar assim, e como em Albufeira no verão não há especialistas, rumei para Lisboa onde sem demora consultei um oftalmologista.

Feitos os exames, o médico disse-me, não sem antes me ter explicado o complexo que é o nosso sistema visual, que eu teria que ser operada. Fiquei sem pinga de sangue, afinal que raio era aquilo que do nada se transformava numa operação de risco, e mais, feita segundo ele só em Londres ou Zurique? Primeiro a reacção foi de surpresa, tentando absorver cada palavra, cada gesto, tentando perceber pela entoação da voz o quão grave era. O médico acabara de me dizer que em poucos meses eu ficaria cega da vista direita, mas que fazendo a operação tinha 50% de probabilidades de ficar a ver normalmente.

É claro que me decidi pela operação, mas antes procurei um outro médico que me foi recomendado por um grande amigo meu, e lá fui eu direita a Coimbra para falar com o Dr. Travassos.
O Dr.Travassos é aquele médico que acha que não tem tempo a perder com a simples falta de visão, portanto vai logo perguntando do que é que o doente se queixa. Inquirida respondi-lhe que não tinha queixas. Ele olhou para mim de lado, fez-me os testes de visão, que na altura era perfeita, e perguntou com um ar aborrecido " Mas afinal o que foi que a trouxe cá".
Eu, já bastante enervada, balbuciei entre os dentes, "tenho um buraco na retina"...
O homem parou, olhou para mim e disse: "tem o quê?", "isso que o Dr. ouviu, tenho um buraco na retina".

De imediato fui levada a uma outra sala onde me fizeram a dilatação das duas vistas, o médico não acreditava no que tinha perante os seus olhos, não era um buraco o que eu tinha na retina, segundo ele, era uma cratera.
Era preciso fazer mais exames, durante duas semanas rumei a Coimbra quase todos os dias, e num deles o Dr.Travassos, perguntou-me se eu estava preparada para ser operada, ele tinha um método inovador e queria testa-lo comigo, eu encolhi os ombros num gesto que quer dizer tudo e nada.

Fui operada no dia 7 de Setembro de 1997, em Coimbra, na Clinica de Montes Claros. Quando acordei da anestesia tinha o olho vendado, não sabia se a operação tinha ou não resultado, só dois dias depois é que comecei a mexer a pálpebra e a ver claridade.

Fui e sou ainda hoje doente do Dr.Travassos, todos os anos faço exames para ver se a minha "cratera" continua fechada. O meu caso foi apresentado pelo médico num congresso em Itália, pois era um caso único no mundo.

Hoje passados sete anos, quando vou a uma consulta de rotina, o Dr.Travassos, que curiosamente me chama por Donana, não se esquece nunca de me lembrar o quão delicada foi aquela cirurgia e os riscos que ambos corremos.
Valeu a pena.

1 Comments:

Anonymous Anónimo Diz...

Oh Ana só quero saber que acinteceu,porquê esta ausencia adoro este blogue volte por favor

07 fevereiro, 2007 22:30  

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