sexta-feira, outubro 01, 2004

«Algo mais»

Jovens portugueses apostam na dor.
Em Portugal há jovens que se auto-mutilam.


São muitos os jovens que vivem num sofrimento psicológico tão intenso que se ferem a si mesmos para sentir dor.
As feridas cumprindo temporariamente a função de sedativos, são gritos que anunciam um sofrimento a pedir ajuda. Tentam comunicar.
Ouvir e compreender são os passos-chave para a cura. Mas nem sempre os ouvidos estão atentos a estes sinais de alerta e os jovens vão-se perdendo e embrenhando cada vez mais por vielas escuras, onde detrás de cada porta o inimigo espreita, espera pelos momentos mais frágeis e aparece como o "amigo" com solução para todos os males.

Essa solução passa na maior parte dos casos por uma experiência com cannabis ou ecstasy, o adolescente fica, como eles dizem, na maior, mais tarde quando estas drogas leves já não fazem efeito passam para outras mais fortes as chamadas drogas pesadas.

Um dos grandes prazeres de xxx, um jovem de 24 anos, era bater a noite na maratona das raves, megafestas que reúnem milhares de pessoas ao som de música tecno. Para ele, noitadas assim exigem uma receita especial: luzes «estroboscópicas», batidas de música pesadas e ininterruptas e... algo mais.

«Alguma coisa que me faça sentir como se a música entrasse na minha cabeça de uma maneira diferente, mais intensa», dizia.

Esse «algo mais» já foi o ecstasy, uma mistura de alucinógeno com anfetamina, também conhecida como a «droga da violação» ou, simplesmente, «E».

O combustível preferido do xxx era o GHB, sigla para ácido gama-hidroxibutírico. Esta nova droga, baptizada de «ecstasy líquido», tem conquistado um número cada vez maior de jovens - especialmente aqueles grupos capazes de passar horas e horas a dançar nas pistas de discoteca.

«As emoções vão e vêm como uma onda. Fico sem noção de tempo, espaço ou velocidade. Só sinto a música», descrevia xxx, que, por motivos óbvios, prefiro manter no anonimato.

No decorrer de raves, alguns jovens chegam, inclusivé a escrever as inicias GHB na mão para que, no caso de serem encontrados inconscientes ou a sofrer convulsões, este possa ser o sinal para «entendidos» de que não é necessária assistência médica, uma vez que daí a três, quatro horas despertarão do seu blackout.

Vendido sob a forma de pó ou já diluído em água, o GHB é incolor, não tem cheiro e o seu sabor é levemente amargo. Por ser consumido sob a forma líquida, começa a fazer efeito, no máximo, em meia hora - um pouco menos que as duas horas exigidas pelo ecstasy.

Se misturado com álcool, como geralmente acontece, o efeito do GHB é ainda mais potente. E perigoso, ao ponto de começar a ser recorrentemente utilizado em locais nocturnos, de forma a induzir estados semi-comatosos e amnésicos, nomeadamente em mulheres, e assim conseguir imobilizá-las, sem que estas possam reagir a um potencial violador.

Quando acordam, não se recordam de nada. Apenas uma ligeira náusea e algum atordoamento. Os seus malefícios vão das náuseas e vómitos ao risco de morte.
«Trata-se de uma droga tão forte que o uso experimental pode levar a quadros sérios, como a overdose e o coma».


xxx faleceu com 25 anos. Uma overdose de GHB colocou termo a uma vida meteorica.