terça-feira, fevereiro 22, 2005

Vale a pena ler

Não tenho filhos e tremo só de pensar.
Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão
invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de
piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro : quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais
leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!

O autor deste texto é o João Pereira Coutinho, jornalista.

3 Comments:

Blogger isa xana Diz...

e aqui está uma verdade... vejo svarias vezes à minha volta um equívoco constante. pais que querem que os filhos se dêem bem na vida, por vezes esquecendo que o que eles acham melhjor para os filhos não os faz verdadeiramente felizes. jovens esquecendo a felicidade porque têm que estudar mais um pouco para poderem seguir aquele curso para poderem ter aquela profissao para poderem ter dinheiro... nao interessa se gostam do que irao fazer, so interessa q irao ter dinheiro e isso fá-los-á felizes, julgam ingenuamente. crianças que nao brincam com outras crianças porque têm que ir para a aula de piano ou ballet com hora marcada e trabalho para fazer como se ja fossem adultos.

beijito:)

23 fevereiro, 2005 01:03  
Blogger uivomania Diz...

O texto é oportuno e a reflexão sobre o texto é urgente.

23 fevereiro, 2005 02:38  
Anonymous Anónimo Diz...

Bem... tenho que confessar duas coisas:

Tenho 2 filhos, com um intervalo de 14 anos, entre eles.
Quando resolvi ter o segundo, todos me diziam... os tempos são outros, vê lá... educar um filho agora é diferente...

Bem... não me arrependi de os ter.
Eduquei-os à minha maneira, mas cresci com eles. Transmito-lhes os valores em que acredito e, assimilo os valores em que eles querem acreditar. Por vezes, o erro dos Pais é quererem que os filhos cresçam à sua semelhança, não pensando naquilo que os filhos realmente querem. Sempre dei liberdade de escolha aos meus filhos, vigiando de longe, essa liberdade, para os encaminhar nos sítios seguros. Mas, as opções são sempre deles. Porque a vida e o futuro a eles pertence. É como diz o velho ditado: …dá-lhe uma cana e ensina-o a pescar…
Abraço :-)

23 fevereiro, 2005 16:29  

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